Qual a importância e como fazer o controle da mosca na avicultura
Apenas uma mosca pode depositar entre 100 a 150 ovos durante seu curto período de vida, que vai de 25 a 45 dias. Os ovos eclodem em menos de 24 horas e as larvas se desenvolvem em 5 a 14 dias, sendo que cada larva, no caso da mosca doméstica, necessita de apenas um grama de esterco para sua nutrição.
Segundo trabalhos publicados no site da Embrapa Suínos e Aves pela pesquisadora Dra Doralice Pedroso de Paiva, um aviário com mil galinhas poedeiras em gaiolas tem capacidade para produzir entre 35 e 44 toneladas de esterco em um ano. Considerando uma média de 39,5 toneladas de esterco produzidas em um ano, essas mil galinhas podem produzir diariamente cerca de 108,2 quilos de esterco, o que representaria um potencial para produzir cerca de 108 mil moscas domésticas.
Outro levantamento feito pela pesquisadora da Embrapa em um aviário comum com criação de cerca de 12 mil frangos de corte, aponta a incorporação de 0,06kg de fezes/animal/dia, o que equivale a 720 kg de fezes frescas na cama, apenas no último dia. “Este resíduo tem potencial para criar até 720 mil moscas domésticas, só com o esterco incorporado no último dia”, destaca a Dra Doralice.
Essa combinação, se os avicultores não estiverem atentos, pode ser bombástica para a proliferação desse pequeno inseto, cuja fama de “abusado” já esteve até em letra de música. Por isso, como bem diz o médico veterinário Hudson Satiro, promotor técnico da Bayer, a mosca precisa ser controlada “nos 365 dias do ano, ou nos 366 dias se o ano for bissexto”.
Satiro foi um dos palestrantes do Avicultor 2018, realizado em Belo Horizonte (MG), no último dia 21/6, pela AVIMIG (Associação de Avicultores de Minas Gerais). Segundo ele, o problema precisa começar a ser combatido enquanto o número de moscas ainda é pequeno, sendo que é extremamente importante identificar os locais de proliferação de larvas.
Em um dos conteúdos divulgados no site da Embrapa, a Dra Doralice Paiva destaca que os prejuízos da produção excessiva de moscas vão além da transmissão de doenças, diminuição na qualidade dos ovos por sujidades depositadas pelas moscas e baixa produção dos operários pelo contínuo incômodo causado pela presença dos insetos.
Os incômodos aos vizinhos geram reclamações e demandas. A informação é reforçada por Satiro, que destaca a ocorrência de penalizações legais e até dificuldades para obter o registro veterinário da granja por problemas com moscas.
“Hoje essa é uma grande preocupação dos granjeiros”, destacou o médico veterinário. “As proliferações de moscas acabam sendo associadas à atividade avícola, muitas vezes de forma injusta, mas tem sido um motivador para a mobilização dos produtores no combate a esse problema”, observou.
Segundo a Dra Doralice, o manejo de aves de postura implica na permanência do esterco sob as gaiolas, por longos períodos. “O desconhecimento sobre o manejo adequado e aplicação de medidas corretas de controle de criação de moscas, fazem com que ocorram ideias errôneas, tanto sobre as causas do problema de excesso de moscas, quanto sobre as possíveis soluções”, explica.
A pesquisadora da Embrapa destaca que quando se formam os montes de esterco sob as gaiolas, significa que o mesmo está seco, não permitindo a criação de larvas de moscas. “Essas só se criam no esterco úmido ou molhado (com umidade acima de 50%)”, destaca a Dra Doralice.
Ela cita ainda que a secagem desse material e a preservação da fauna de predadores e parasitos de ovos e larvas, mantém a situação em equilíbrio, ou seja, com poucas moscas.
Segundo Satiro, o cascudinho, que é um sério problema na avicultura de corte, é um aliado na aeração do esterco na avicultura de postura, por exemplo. Esse tipo de controle biológico pode ser estimulado, segundo a Embrapa.
A orientação técnica é para, quando é feita a sua retirada do esterco durante o período de produção (em geral com 46 semanas), que se deixe uma parte (cerca de 5 cm) e, no início de um novo lote, coloque sobre ela uma camada de esterco velho, com cascudinhos e outros insetos predadores das larvas da mosca.
Para essa prática, é indicado o uso de serragem no início do lote para facilitar a secagem do esterco e criação desses predadores.
Controle de criação de moscas
O controle da criação de moscas, segundo aponta a Embrapa, pode ser efetuado através da integração de medidas de controle mecânico (tanto do esterco quanto das carcaças e resíduos de ovos), biológico e químico.
As medidas de controle mecânico têm o objetivo de manter o esterco seco, impedindo a proliferação das moscas. Entre elas a Embrapa destaca o uso, sob as gaiolas, de tábuas de 5 cm de largura apoiadas sobre traves colocadas a cerca de 15 cm do solo.
“Facilita, além da secagem, também a remoção do esterco”, destaca o material. “Onde o uso desse recurso não é possível (gaiolas com pés de barras de ferro ou muito próximas do solo), a vigilância sobre a umidade do esterco deve ser maior”, completa.
Uma segunda medida é verificar o esterco diariamente para identificar pontos de vazamento dos bebedouros, encanamentos e, ainda, outras possibilidades de causas de umedecimento do esterco.
“Se for permitido o nascimento de uma grande quantidade de moscas, após a tomada de medidas de controle mecânico, a população de adultos só será eliminada com uso de produtos químicos, ou após o tempo de vida desses insetos (de 20 a 45 dias)”, destaca a orientação da Embrapa. Segundo Satiro, o treinamento da equipe que fará a vigilância do aviário é fundamental.
A Embrapa orienta ainda que a secagem do esterco pode ser acelerada, espalhando-se a parte molhada sobre o esterco seco, ou colocando-se cal, o que impede a instalação de larvas e diminui o custo do controle.
Também segundo orientação da Embrapa, merecem atenção especial, o início do ciclo de postura de um novo lote, o período de muda e plantéis de determinadas linhagens de galinhas que produzem esterco mais líquido. “Nesse caso o uso serragem acelera a secagem do esterco e a cal deve ser usada nos locais mais úmidos”.
Para o controle químico, a orientação é evitar fazer o controle sobre o esterco quando estiver sendo aplicado o controle biológico, ou seja, com os predadores das larvas da mosca. Segundo Satiro, em primeiro lugar, é necessário identificar qual o tipo da mosca, qual a intensidade do problema e os locais de proliferação das larvas.
“Não adianta adotar só o controle de adultos e deixar os locais onde está ocorrendo a proliferação larval sem controle”, observa Satiro. “Em seguida, fazer o treinamento adequado do pessoal que deverá ficar responsável por esse tipo de controle é fundamental”, conclui.
Fontte: https://avicultura.info/